Fantasia e (des)ilusão 🔮
Esse artigo aborda o papel fundamental da fantasia no desenvolvimento da identidade e na construção da experiência humana. Desde o nascimento, a convivência com o outro permite que o indivíduo desenvolva sua percepção de si mesmo. A fantasia, inicialmente onipotente, evolui ao confrontar os limites do ambiente. Embora tenha potencial construtivo, ela pode também gerar sofrimento quando vinculada à perfeição idealizada. Durante o processo terapêutico, é possível desconstruir convicções engessadas, permitindo a criação de novos caminhos saudáveis. Trafegar pela ilusão é sobre nutrir as fantasias que dão vida à alma, sem deixar que o ideal paralise o percurso.
PSICANÁLISEFANTASIAS
Nathália Guerardt
1/1/20221 min read
A experiência é um trafegar constante na ilusão.
Donald Winnicott
Quando nascemos precisamos que alguém nos apresente ao mundo. É a convivência com esse outro e os cuidados recebidos por ele, que inicialmente nos possibilita criar uma percepção do Eu, ou seja, uma identidade própria.
Um bebê fantasia que é onipotente, pois não sabe que existe um outro atendendo as suas necessidades. Em um dado momento, quando se depara com os limites do ambiente e quando o cuidador falha em atender as suas necessidades, o bebê descobre que ele e o mundo não são uma coisa só e descobre que não possui poderes e pensamentos mágicos.
Desde cedo a fantasia tem um importante papel no desenvolvimento da nossa identidade. A fantasia carrega uma potência construtiva. Porém, ao longo da vida, ela pode nos conduzir tanto para uma grande experiência, quanto nos paralisar.
Quando a fantasia carrega um ideal de perfeição, ela vem acompanhada de grande sofrimento. Idealizar que algo só pode ser feito de uma tal maneira ou em um momento específico da vida, pode impedir que isso aconteça. A pessoa sofre diante da impossibilidade e se frustra, sentindo-se incapaz de conquistar o que deseja. E isso também pode dar lugar a um adoecimento psíquico.
Durante o processo de análise o paciente descobre como desconstruir convicções até então engessadas. Ele passa a questionar as certezas que o paralisavam e se permite criar caminhos e sentidos diferentes para a sua própria vida de formas possíveis e saudáveis.
Trafegar pela ilusão é manter consigo a capacidade de fantasiar sobre a vida, de criar e de construir. É não paralisar, não deixar morrer as fantasias que alimentam a alma e não permitir que o “ideal” impeça o percurso.


Psicóloga Nathália Guerardt – CRP: 05/52142
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