Sofrimento, diagnósticos e uso excessivo de medicações
O artigo aborda como a sociedade tende a patologizar sentimentos normais, como o luto ou a tristeza, transformando-os em diagnósticos e buscando tratá-los como doenças. Isso pode impedir que as pessoas vivenciem e deem sentido às suas dores naturais, em uma tentativa de bloquear ou anestesiar o sofrimento. No entanto, aceitar e falar sobre essas dores é essencial para lidar com elas de maneira saudável, desafiando a lógica de uma sociedade que valoriza a produtividade e evita o sofrimento.
MEDICAÇÕESDIAGNÓSTICOSSOFRIMENTO
Nathália Guerardt
1/1/20232 min read
Sofrimento & Doença
O sujeito que sofre se torna automaticamente um sujeito doente, portanto anormal.
Radmila Zygouris
“Vivemos numa sociedade que patologiza as dores mais normais, na qual o ‘estou infeliz’ (...), se transforma no ‘estou deprimido’ ou ‘meu médico me disse que estou em depressão’. Rupturas, luto, desemprego, tudo se transforma em patologia (...). Tudo deve ser "tratado" através da psicoterapia, da medicina ou das mais variadas formas de terapia.”
📖 Livro: Psicanálise e Psicoterapia
Autora: Radmila Zygouris
O que pode ser pensado a partir disso ⁉️
Ter uma boa saúde mental não significa alcançar total plenitude e satisfação na vida. Se entristecer por causas naturais passou a ser visto como negativismo, tabu ou doença.
A sociedade enxerga a "doença" antes mesmo de enxergar o indivíduo que (supostamente) está "adoecido".
Isso é preocupante, pois estamos vivendo um momento sociocultural que busca freneticamente diagnosticar as chateações e as dificuldades da vida. Em alguns casos, o diagnóstico (ou autodiagnóstico feito na rede social) se transforma em uma nova identidade e meio de identificação do sujeito.
Frequentemente, diante de queixas habituais, alguém diz:
🤦🏻 "Estou deprimido"
🙇🏻♀️ "Fulana tem depressão"
Antes de sair por aí distribuindo diagnósticos ou tentando descobrir o próprio CID, é importante observar e tentar entender a história por trás da dor de cada um.
A pessoa que perde um familiar querido e vive um luto ou a pessoa que perde o emprego e não consegue enxergar boas perspectivas profissionais, pode estar apenas passando por um momento difícil e isso não quer dizer que ela esteja deprimida ou tenha um quadro de depressão.
Nas redes sociais, dores e tristezas inerentes da própria vida, são encaradas como algo a ser tratado e, muitas vezes, algo que precisa ser medicado 💊
O que é permitido sentir diante da dor do luto ou do desemprego? Pouco se fala sobre dar espaço para vivenciar essas etapas. Ainda mais em uma sociedade tão apressada e com necessidade de ser produtiva.
Mas o que há por trás disso?
Bloquear a dor e se anestesiar diante das angústias é um modelo de vida bastante lucrativo e comercializado. Mas eventualmente as pessoas se deparam com a verdade e entendem que não é possível se anestesiar por uma vida inteira, pois o sofrimento faz parte da condição humana.
É preciso abrir espaço para que o sofrimento consiga passar. Um espaço onde seja seguro falar sobre ele e onde seja possível construir sentido para as vivências dolorosas. Escolher esse caminho pode ser desafiador, pois vai na contramão de uma sociedade anestesiada que tenta impedir toda forma de sofrimento e angústia. Mas é gratificante perceber que é possível lidar com as dores da vida por mais difícil e assustador que pareça esse processo.




Psicóloga Nathália Guerardt – CRP: 05/52142
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